Antes de irmos viajar andei dando uma olhada nos blogs e vi essa matéria do Dr. La Vanguardia no blog Nossa Misturinha, falando sobre a Cama Compartilhada e outras cuidados com bebês e vai bem de encontro a tudo que eu penso e acredito:
“As crianças que dormem com os seus pais têm menos problemas”
(La Vanguardia [Barcelona – Espanha] 31/03/10)
Ter um filho é uma experiência transcendente. É como uma semente que se planta para garantir a passagem à eternidade. Por isto é tao importante ser pais, mais que o dinheiro ou o trabalho, ainda que muitas vezes nao se dedica o tempo suficiente aos filhos. Para o pediatra Carlos González, presidente da Associaçao Catala Pro Amamentaçao (ACPAM), isto é um erro grave. Existem pais que enchem seus filhos de presentes para cobrir a sua falta de atençao, quando o que necessitam sao mais horas de pai e mae. González recomenda nao seguir a recomendaçao de livros que dao conselhos para criar uma criança porque o melhor é se deixar levar pelo bom senso. Parece estranho que o diga justamente ele, que acaba de publicar “Entre o teu pediatra e você”. Entretanto isto é o que lhe dita a sua experiência como pediatra, mas também como pai de três filhos, que já comem e já dormem.
Pergunta (P): Como criar bem uma criança?
Resposta (R): Passando o maior tempo com ela.
P: Mas tem muitos pais que têm que trabalhar.
R: Sim, mas no fundo todo mundo pode se permitir cuidar dos seus filhos. Meus pais o fizeram comigo. É questao de prioridades.
P: De que prioridades?
R: Se você quer ter muitas coisas materiais ou estar mais tempo com eles. Às vezes o nível de vida nao depende tanto do dinheiro que você ganha, mas de viver como você quer e fazer o que você quer.
P: Seus pais te educaram assim.
R: Preferiam estar comigo mais que trabalhar, ainda que nao saíssemos de férias nem tívessemos carro. Eu segui o mesmo exemplo. Quando nasceram meus três filhos deixei de trabalhar e me dediquei a escrever em casa, porque existe algo mais gratificante que ser pai?
P: Nao pude comprová-lo.
R: Se você é um ministro, prêmio Nobel o cirurgiao salva-vidas, poderia ser mais gratificante, mas se você é mais um pediatra entre tantos, um peao de obras ou trabalha num supermercado, mais gratificante para você serao os teus filhos.
P: Por quê ter filhos é tao transcendente?
R: Dentro de umas décadas o único que restará de nós será a nossa descendência. Quando era adolescente, li num muro de rua: “temos que considerar a possibilidade de que a imortalidade esteja nos filhos”.
P: Nunca havía pensado nisso.
R: Como sejam e vivam os nossos filhos dependerá de nós mesmos
P: O que significa criar um filho de forma natural?
R: O normal na espécie humana é dar a atençao que o bebê pede: quando chora, pegá-lo no colo; se ele se desperta, consolá-lo… Isto de colocá-lo para dormir em outro quarto e nao acostumá-lo no colo se inventou recentemente.
P: E se ele nao quer dormir sozinho?
R: Antes de tudo nao se deve deixá-lo chorar. É como se chegássemos em casa e encontráramos a nossa esposa soluçando de chorar. Nao seria normal perguntar-lhe o que acontece? E se é o meu filho, vou ignorar e começar a ler um livro? Pois é claro que vou me preocupar!
P: O que um pai tem que fazer se seu filho chora à noite?
R: Pois, dar-lhe a atençao que pede, porque se nao, ou seu choro nao lhe deixará dormir ou os seus remordimentos, que durarao muito mais que o choro da criança. E eu nao quero viver com a lembrança de que “meu filho me chamava e eu nao fui lhe ver”
P: Também podemos trazê-lo a nossa cama?
R: Claro que sim. Normalmente isto é o mais cômodo, ainda que tem gente que se empenha em se levantar seis vezes cada noite para consolar seu filho, mas nao estou disposto a fazer este sacrificio quando tudo se resolve trazendo-lhe a nossa cama.
P: …
R: Dormi com meus pais e os meus pais com os meus avós. A maioria das pessoas também o fez, ainda que custa sair do armario porque está mal visto. Disse Gabriel Mistral que “é amargo todo o homem que nunca tenha dormido no colo da sua mae”
P. Mas nao tem nenhum estudo científico que o corrobore.
R: O preconceito é pensar que as crianças que dormem com seus progenitores sao mais dependentes. Mas, segundo alguns estudos, os que dormem à noite na cama dos seus pais têm menos problemas de saúde mental.
P: “Uau”
R: Os pais costumam impor aos seus filhos normas absurdas que os fazem sofrer e a eles também. Por exemplo, nao pegá-los no colo com frequência ou deixá-los chorar quando lhes colocam a dormir sozinhos.
P: Entao, que normas temos que seguir?
R: As que os pais queiram, as que lhes sejam mais cômodas de por em prática. Estou convencido de que nao se necessita livros para criar um filho.
P: E o diz o senhor que é escritor, além de pediatra.
R: Sim, me dei conta de que muitos pais ou se sentiam preocupados por nao poder por em prática os conselhos que encontravam em livros ou ficavam com o coraçao destroçado quando os aplicavam.
P: Os pais se preocupam às vezes demais com seus filhos?
R: De um certo modo, sim. E penso que é uma consequencia de que a maioria das pessoas tem menos filhos que antes e se preocupa por coisas absurdas. Uma mae chegou a me perguntar o que poderia fazer se o seu bebê nao gostava de abobrinha. Mas, muitos pais con sete filhos nem se preocupam se eles se alimentam a base de hamburguers e batatas fritas!
P: Que diferença!
R: Hoje em dia o 80% das maes sao novatas porque nao chegam a ter mais de um filho.
P: E ainda assim nao conseguem educá-los como querem.
R: Na Espanha as crianças começam a ir a creche aos 4 meses de vida, quando em países como a Alemanha só vai um 6%, e na Finlandia a escola normal nao começa até os 7 anos. Por nao falar dos pais que deixam os filhos uma hora antes de começar as aulas e os recolhem uma hora depois de acabá-las.
P: Têm que ir trabalhar.
R: Sim, e como muitos se sentem mal, tentam compensá-lo dando todo o afeto e carinho quando estao com eles. Mas tem outros pais que, como lhes disseram que pegar uma criança no colo ou acariciá-la muito é malcriá-la, optam por comprar-lhes brinquedos, aparelhos eletrônicos e sair de férias, assim que precisam trabalhar mais e, portanto, estar menos com seus filhos.
P: É um círculo vicioso.
R: Às vezes substituimos coisas realmente importantes, como o contato, o carinho e o afeto, por coisas materiais. Dá pena escutar os pais de adolescentes problemáticos dizer “ai, com as horas que trabalhei para que nao lhe faltara nada”, mas talvez o que necessitava esta criança era mais horas de pai e mae.
P: Inclusive tem crianças que nao querem comer enquanto as suas maes trabalham.
R: Sim, este fenómeno é frequente em crianças de 4 ou 6 meses de idade. É uma conducta que se observa principalmente em bebês que tomam peito. A maioria das crianças, se dependesse delas, estariam mamando até os 2 ou 4 anos.
P: A soluçao é conciliar melhor trabalho e familia?
R: Efetivamente, temos uma das taxas de natalidade mais baixas da Europa. Outros países como a Suécia têm 2 anos de licença maternidade ou reduçao da jornada de trabalho com salário integral. Mas na Espanha as ajudas quando se tem um filho sao uma autêntica vergonha.
P: O mais importante para criar um bebê é…
R: Nao lhe dizer muitas vezes que lhe ama, porque ele nao entende isto, temos que demonstrá-lo: abraçar-lhe, beijar-lhe muito e fazer com que sinta que estaríamos dispostos a tudo por ele.
