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segunda-feira, 21 de março de 2011

Campanha contra o racismo - Unicef


Hoje vamos falar de um assunto que não é sobre o desenvolvimento da Gaby ou suas descobertas, mas que com certeza irá fazer parte de sua vida, assim como fez da minha e de muitas pessoas, o racismo. A Unicef está fazendo uma campanha contra o racismo e eu acho o tema super importante. Ainda não converso sobre isso com a Gaby, acredito ser muito cedo ainda, mas quando ela começar a entender ou questionar, com certeza iremos tratar o assunto da melhor maneira possível.
Bom, no blog Desabafo de Mãe irá ser feita uma blogagem coletiva sobre o tema e então decidi que é importante nossa participação nessa ação. A proposta da Unicef é que contemos a nossa História de Infância Sem Racismo para publicação no site deles, além de divulgar nas nossas redes sociais a campanha. Já me registrei no site deles e vou tentar contar um pouco da minha experiência de vida e de como trato o assunto na escola junto dos meus alunos. 
Eu sou filha de mãe branca e pai mestiço (meu avô era negro e minha avó loira dos olhos azuis), então sou mulata. Mas durante minha vida toda sempre fui tratada como "morena". Acho que as coisas já começam por aí, as pessoas tem medo de dizer a cor real da outra com medo de ofender ou coisa do tipo. Vou ser sincera em dizer que não lembro de nenhum fato marcante de alguém sendo racista a mim... sempre fui bem tratada por todos, apesar de ter estudado e convivido boa parte da minha vida com pessoas de origem oriental e maioria brancos. Mas lembro de um ocorrido com meu pai em um shopping de SP. Fomos fazer compras e meu pai sempre gostou de andar bem a vontade, de havaianas e bermuda e lá fomos nós entrando em uma loja e a atendente já olhou com uma cara de poucos amigos... meu pai pediu para ver uma calça e deu seu número e a moça já respondeu "aqui só trabalhamos com cartão ou dinheiro". Meu pai olhou meio sem graça para ela e disse: "não perguntei a forma de pagamento e sim pedi minha calça". A moça repetiu a prosinha e decidimos sair da loja e ir em outra. Enfim, compramos várias roupas, para meu pai e para mim, a loja vendia tanto feminina quanto masculina e na saída eu fiz questão de voltar a tal loja e mostrar as várias sacolas que tinhamos comprado e olhar bem para a atendente e dizer: "aqui está sua comissão que você perdeu por ficar julgando as pessoas pela cor ou roupa... espero que tenha aprendido". A moça ficou com uma cara de pastel e o gerente veio pedindo mil perdões, então eu lhe disse que era melhor ele treinar mais as moças senão as vendas cairiam muito.
Outra coisa que sempre lembro é da gente viajando de carro e todos os guardas parando meu pai para pedir documentação... um negro dirigindo carrão (há uns 15 ou mais anos atrás) boa coisa não devia ser... e assim era durante toda a viagem, em praticamente todos os postos policiais a gente era parado... ficava até chato. A gente já ia rindo quando via os guardas e falava "lá vai o guarda parar o negão com cara de bicheiro". 
Mas coisas mais graves que isso nunca aconteceu com a gente. 
Infelizmente se tem a cultura (agora até que menos) de que o negro só tem grana se tiver roubado, for jogador de futebol ou traficante. Graças a Deus isso diminuiu muito, estamos vendo vários negros bem sucedidos em suas carreiras e conseguindo mostrar a sociedade seu real valor. 
Agora na escola a coisa fica um pouco mais complicada... dou aula em escola pública, então a variedade de cores é enorme e devemos o tempo todo conversar com as crianças sobre o respeito com o outro. E é complicado pois muitas famílias ainda tem conceitos bem fortes sobre as raças diferentes. Um exemplo: algumas semanas atrás estávamos no parque brincando e as meninas queria brincar de casinha e precisavam arrumar 3 maridos...rsrsrs.... e eu só escutando a discussão delas. Quando uma chega em mim e pergunta:
- Professora, pai não pode ser dessa cor né? (mostrando a cor da pele do outro amigo, que é negro e ela é branca). 
Eu dei risada e falei que podia ser sim. E expliquei a ela a situação da minha casa, onde a minha mãe é da cor da aluna e meu pai é da cor do menino em questão e falei que eu nasci assim e mostrei meu braço a ela. Ela olhou bem e deu um sorriso falando que então não tinha problema. Falei que não e que meu marido era branquinho como ela e que nossa filha era da cor da outra amiguinha. E assim fui mostrando a ela como se formam os casais e como podem nascer os filhos. E a brincadeira delas continuou numa boa.
Aproveitei o assunto para falar com todos quando voltamos para a sala e reforcei muito a importância de não ficar colocando apelidos nos amigos que tem pele escura ou naqueles de origem oriental, super comum em nossa cidade. Aproveitei e li um livro bem legal para tratar o assunto com as crianças, Menina Bonita do laço de fita. Eles se divertiram com a história e entenderam bem a moral dela. 


O problema é trabalhar isso nas famílias... estou até pensando em conversar sobre isso com as mães na reunião de pais, mas primeiro quero bolar um material bem legal para ter fundamentos para passar aos pais. 
Aqui em casa, como casal, já recebemos uns olhares tortos, porque somos de cores super diferentes e de tamanhos muito diferentes também...rsrsrs. Mas sempre levamos numa boa e nunca demos bola para os olhares e atá alguns comentários meio maldosos. Nos aceitamos e nos amamos como somos. E acho que isso é o principal para acabar com o preconceito. O próprio negro se aceitar como é e não  tentar ficar mudando, alisando os cabelos, tingindo, deixando de tomar sol... e outras coisas que a gente vê por aí. Acho que quando cada um se aceitar como é, o próximo também vai passar a vê-lo de outra forma e a tendência é o preconceito diminuir. Bom, essa é minha opinião.