Minha mãe se tornou avó no momento em que nós escolhemos para ter nossa filhota. Meus pais foram os primeiros a receber a notícia da gravidez, a princípio a gente ia contar só depois dos 3 meses, mas não aguentamos segurar a ansiedade em dividir um momento tão especial e decidimos contar. Liguei para o meu pai e perguntei se minha mãe estava junto com ele. Ele disse que sim, então pedi para ele colocar o celular no viva voz porque queria contar uma coisa. Lembro certinho do meu pai falando assim:
- " Ela vai contar que tá grávida!!! Tenho certeza!!!"
E eu disse que ele era um estraga prazer, que tinha estragado minha surpresa..r.srsrs. E os dois ficaram todos bobos com a notícia.
Desde o início da gravidez, foi um paparico só. Minha mãe fazia todas as comidas que eu queria, nos acompanhou na compra do enxoval em SP, foi a algumas consultas e exames conosco (sim, iamos os 3, porque o papai fez questão de ir em todos os exames e consultas junto comigo), foi a sessão de fotos da barriga, fez as lembrancinhas do nascimento, os pães de mel, lavou e passou todas as roupinhas da netinha tão esperada, enfim me ajudou em tudo o que podia.
Na data do parto, foi uma briga pra ver quem ia ficar comigo na maternidade. Decidimos que a primeira noite seria do papai e na segunda da vovó. Mas ela esteve conosco lá o tempo todo, mesmo não dormindo e quando a pequena nasceu foi toda carinhosa com ela.
Foi ela também quem cuidou de mim quando voltamos para casa. Ela ficou aqui o tempo todo com a gente. Fez comida, me ajudou com os banhos, trocas, sonecas e tudo mais. Até que ela mesma ficou doente (teve apendicite) e minha casa se tornou uma "enfermaria": uma recém parida e uma recém operada. Contamos com a ajuda da minha tia Maria para cuidar de nós todos.
Quando voltei ao trabalho, Gaby ficou com ela para que eu pudesse retomar minha carreira. Mas não consegui dar conta de ficar tanto tempo longe da minha pequena e por mais que eu confiasse na vovó, percebia que ela mesmo sem querer passava dos limites de avó e queria ser mãe no meu lugar. Aquilo me doia e acabei desistindo de um cargo e ficando com uma escola só e colocando a Gaby na escola. Minha mãe quase teve um treco nessa época, mas hoje todos percebem o quanto foi melhor para todo mundo essa decisão.
As duas continuam se amando como antes, só que não se veem todos os dias. Quase toda semana pelo menos 2 dias papai passa na casa da vovó depois da aula da Gaby e eles ficam lá um pouco e quase todo final de semana almoçamos ou jantamos juntos.
A convivência entre minha mãe e eu ficou melhor assim, sem ela ter que cuidar da pequena para mim e eu me sinto mais tranquila com isso. Ela não tinha obrigação de cuidar da minha filha, mas queria assim mesmo, mas ao mesmo tempo eu sentia uma cobrança por não dar conta de tudo, casa, filha, escolas e marido. Então decidi optar por ter mais tranquiladade, menos dindin, mais felicidade!!!! E hoje todos somos muito felizes assim!!!!
PS.: O post é meio que um agradecimento e um desabafo da relação minha com a minha mãe... nada mais que isso.
Abaixo um texto lindo que li no blog da Marcella do Mon Maternité que fala sobre as avós:
“Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo... Quarenta anos, quarenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações — todos dizem isto embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto — mas acredita. Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meus Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda. E então um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis — aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que os netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. No entanto — no entanto! — nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela , em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser mãe do garoto. Não importa que ela, hipocritamente ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha", e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar. Já a avô, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café — café! — mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parece com o lápis dizendo que foi sem querer — e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna. Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto. E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno. E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade... Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho — involuntariamente! — bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois, o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.”

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